[04/06/2008] • 2 comentários


O retrato de Dorian Gray é um “Romance fascinante sobre a imortalidade, a perfeição, a juventude eterna e outras impossibilidades. Publicado em 1890 – com uma segunda edição do ano seguinte, a que o escritor acrescentou seis novos capítulos e um prefácio –, “O Retrato de Dorian Gray” chocou a hipócrita sociedade vitoriana que viu nele um espelho dos seus defeitos, alheio àquelas que considerava serem as suas virtudes. A crítica apressou-se a envolver o romance num escândalo que passou de literário a social quando a relação de Wilde com o Lord Alfred Douglas se tornou pública (em 1891). No prefácio à segunda edição, Wilde distancia-se da polémica (“Não existem livros morais ou imorais. Os livros são mal ou bem escritos. É tudo”) e desencoraja os que procuravam encontrar no seu ciclo de amizades as figuras inspiradoras das suas personagens: “O que a arte espelha realmente é o espectador e não a vida.”
Obcecado pela beleza dionisíaca do jovem Dorian Gray, que conhece numa festa da alta-sociedade londrina em casa de Lady Agatha, Basil Hallward faz dele seu modelo. Nas várias sessões em que Dorian pousa para Basil desenvolve-se entre os dois uma amizade que coloca o artista numa posição de extrema fragilidade. Basil está fascinado pelo perturbador Dorian que, por sua vez, se deixa envolver pelo olhar cínico e irónico de Lord Henry Wotton, o mesmo que define a beleza como uma forma de génio. Confrontado com a beleza do seu retrato e a impossibilidade de a manter para sempre, Dorian promete a sua alma em troca da juventude eterna. Ao longo do romance, o quadro passa de retrato a duplo de Dorian, já que nele se inscrevem todas as marcas que o tempo e o comportamento deviam deixar no homem – é o retrato que envelhece, enquanto Dorian conserva os traços perfeitos que Basil inicialmente fixou.” (síntese do Obvious, sublinhado meu) .



Muitas são as leituras possíveis do romance. Na minha óptica achei-o uma grande antecipação (pré-visão) de tudo aquilo que posteriormente seria catalogado de pós-modernidade. Essencialmente, li-o como um aviso ao devaneio humano que ousa lutar contra o inevitável. Talvez por isso dedico-o ao pe. Zé, esse malandro, que não tem escrito nada por aqui. E dedico-lho porque sei que ele continua, como sacerdote, a dar sentido aos inevitáveis das nossas vidas. Aí a fé supera os romances e escreve histórias muito mais interesssantes.

2 comentários:

Zé Henrique disse...

Não conheço... e, de facto, ando outra vez (?) retirado destas lides. Mas prometo que vou tirar a referência para ver se anda algures perdido pela feira do livro de Leiria... Quanto a recomendações... Bem, deixo uma para ti, Abílio: de Christian Bobin, Ressuscitar, ed. Tenacitas, Coimbra 2006. Encontrei-o por acaso, aqui há uns tempos, e parece-me que irias gostar. Não é um romance, embora com uma história de fundo, ao jeito de silogismos, entre a poesia e a prosa... Só lendo...

Anónimo disse...

Eh! Fico cada vez mais encolhido com as "descobertas" destes jovens, que nunca acreditaram nas novidades que podiam ter intuído para além de certos discursos de há várias déadas.
Um garnde abraço deste amigo,quase clandestino.
AP

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