[30/01/2012] • 15 comentários

Penso que o assunto vem a propósito... -mais palavras!?
-Espero as nossas...

15 comentários:

Zef disse...

Acho que os jovens emigram, porque têm sede "de mais"...
Pelo que experienciei até aos dias de hoje, constato que tenho vivido num mundo em que a informação é global, e que as distâncias foram encurtadas... Muitas das barreiras psicológicas das viagens foram estraçalhadas, outras foram minimizadas, apenas não sendo possível evitar a "distância física" entre corpos...

Assumindo que a educação actual é pensada para me preparar jovens para um mundo global, penso que é natural que estes queiram explorar a sua construção não só na comunidade em que vivem, mas na aldeia global...

Não se pode recriminar os jovens porque emigram, só porque em alguns países a remuneração é muito superior... e talvez esse seja o único motivo de muitos... o problema não é, nem nunca foi a emigração... o problema são as crises de valores das sociedades...

PA disse...

Porque não querem e-star aqui...

Rafa disse...

humm...

arriscar-me-ia também a referir a desconstrução gradual do valor interno do nosso pais...em que é dado constante mediatismo ao que há de mau e pouco ou nada ao que existe de bom...

subscrevo quando o Zef fala de ordenados mais aliciantes...mas acima de tudo acho que é o desejo "de mais"...de uma nova experiência, de um novo tipo de vida, de finalmente poder praticar aquilo para que nos educámos e formámos para fazer, mas também porque existe, cada vez mais, uma diferente resposta pessoal à pergunta "Porque não?"...

No passado, os valores que uniam um agregado familiar, e a importância da presença física de todos os elementos para para que o agregado familiar estivesse nas melhores condições - económicas e anímicas - aliado à distância, levava a que muitas pessoas respondessem "não por causa da minha família, não por causa da minha estabilidade emocional", etc

Actualmente, tal como o Zef também disse, há uma minimização do factor distÂncia...mas acho que é mais que isso...acho que existe um maior desprendimento por parte dos jovens, que tem coisas positivas e negativas...mas, quando esse desprendimento se junta a uma instabilidade profissional e económica, a resposta a pergunta "Porquê não?", passa a ser "Sim, porque posso!"...

Já lá vai o tempo em que Portugal "exportava" senhoras das limpezas e empregados indiferenciados para industria...actualmente "exporta", acima de tudo, cérebros que incluem horas e balúrdios de formação, conhecimento geral e específico, know-how e uma forma de estar, geralmente, aberta à diferença cultural...

Por isso, em resumo...respondo à pergunta feita do "porque é que os nosso amigo emigram" com um simples...porque as razões para partir são mais fortes que as razões para ficar...e a luz ao fundo do túnel não é forte o suficiente para se acreditar que a oportunidade de auto-realização está já "ali"...

Elsa Gonçalves Francisco disse...

... porque têm a ilusão que encontrarão trabalhos onde podem ganhar mais dinheiro;
... porque se não encontrarem trabalhos onde possam ganhar mais dinheiro que em Portugal, ganham o mesmo e ficam a conhecer outra cultura;
... porque quem está mal, muda-se;
... porque se acredita que há partes no mundo onde não se há-de falar de crise;
... porque querem acreditar que o dom que têm ha-de estar a ser preciso noutra parte do mundo e não a ser congelado com dinheiros de subsídios de desemprego;

os nossos amigos emigram porque querem trabalhar mais, ganhar dinheiro e ser felizes sem ser só a fazer trabalho voluntário.

não sei porque é que os nossos amigos emigram.
às vezes também me pergunto porque é que o vou fazer.
mas a resposta surge em jeito de pergunta também: por que é que não o faria?

a excepção: por que é que temos amigos que ainda não emigraram?

Andreia C. disse...

Elsa, a resposta à tua última pergunta é: falta a coragem e noutras as condições.

Acho que de facto vamos para fora por todas as razões que já disseram.

Se vou ao centro de emprego e só há trabalho pra serralheiros ou canalizadores, se vou procurar fora do centro de emprego e a resposta é sempre "de momento não precisamos", o que estamos aqui a fazer?

De facto as fronteiras desapareceram, passar para outro país é mais fácil e, quase sempre, a remuneração é superior.

Acho que os paradigmas sociais, as redes familiares e as relações estão a mudar (se é que já não estão mudadas) e ir para espanha ou Reino Unido é quase como ir para Lisboa. Muda a língua e a distância.

Dizem-nos que temos de nos adaptar, evoluir, descobrir e nós vamos embora.

Para ficar cá temos que ser empreendedores, inventar, criar novas alternativas, muitas vezes do zero, sem dinheiro, sem recursos.
É por aqui que temos a solução para nós em Portugal. Talvez de facto seja mais enriquecedor do que ir para fora. Não sei, deixo ao vosso critério.

Acho que ir embora reflete que apostamos mais em nós hoje em dia, sem deixar que as relações nos prendam por cá. Será isto bom ou mau?
Ontem alguém me dizia que o mais importante era ter alguém ao meu lado, que se lixe o emprego, há-de aparecer qq coisa.

Por vezes irmos para fora é deixarmos de ter alguém e irmos sozinhos. Hoje estamos dispostos a isto. Será só pela "crise"?
É uma questão de se ponderar as vantagens e desvantagens e decidir o melhor para nós.

Alx disse...

a minha questão principal, mais do que a tentativa/procura de encontrar razões para o porquê da questão em particular... prende-se com o facto, de ter a perfeita noção (e sofrimento junto) de que este pessoal está a ser obrigado a adiar questões, penso, fundamentais, da existência humana, como o constituir família, construir um lar, empenhar-se numa realização profissional! se antes se emigrava para antecipar soluções, actualmente, dá a ideia que que se emigra para adiar ilusões... será!?

PA disse...

Sou pragmático (ou então vítima da minha insensibilidade, como queiram): é tudo uma questão económica. Emigra-se porque se quer TER mais. Duvido que, por isso, se SEJA mais...

Zef disse...

Boa Noite,

Os jovens adiam tudo isso, porque são adultos cada vez mais tarde. Aceito e concordo que um jovem actual é muito mais coisas, mas é (sou) menos adulto no geral.

Paulo, discordo de ti, porque também aqui a minha vida é só uma questão económica... arriscaria, dizer que em todo o lado é uma questão económica...

PA disse...

Zef: não percebi; discordas de mim e dizes que "também aqui a minha vida é só uma questão económica..."? Quererás falar de "oikos" e "nomos"?
E concordo: cresce-se mais tarde. E com a maturidade vem a certeza de que há coisas mais importantes e que vão para além da conta bancária. Obviamente, numa sociedade consumista, convém ser assim. É uma questão de valores (ou de inversão deles). E o paradigma carnavalesco é de uma actualidade gritante: dêem circo às gentes e elas terão barriga cheia, sem se lembrarem que no dia seguinte olhar-se-ão vazias como sempre. No fim, é tudo uma questão de máscaras: e a vontade de sair é tão somente para conseguir pagar a máscara atrás da qual nos escondemos permanentemente e que nos ajuda a fingir o que realmente não somos.

Rafa disse...

Boa tarde a todos,

Zef, não podia concordar mais...feliz ou infelizmente, dependendo do assunto, amadurecemos cada vez mais tarde, tentando adiar o mais possível a "aceitação" de responsabilidades...

PA...compreendo quando se diz que é uma situação económica, apesar de não concordar...
Na minha perspectiva essa tal "questão económica" é um pouco mais abrangente...não se fica com o dinheiro que se pretende "amealhar"...aí concordo...porque a riqueza não faz OBRIGATORIAMENTE" bem a ninguém...(apesar de achar que um "pé de meia" não faz mal...contudo, acho que não podemos ignorar o facto de grande parte dos jovens terem investido ao longo de vários anos, uma quantia avultada na sua formação..quantia essa que ninguém quer considerar que "desperdiçou"...
...a meu ver...quer a questão do dinheiro que já se investiu, desejando uma construção de um futuro melhor, quer o facto de, não conseguindo exercer aquilo para o qual nos formámos tem um consequência profunda no sentimento de realização pessoal...o que, aliado ao facto de "não ter dinheiro para mandar cantar um cego"...leva a um sentimento de frustração pessoal crescente, onde qualquer mera possibilidade de alteração dessa condição se torna instantaneamente "analisável"...

eu valorizo a minha familia...bem como os meus amigos...e sei que necessito das minhas actividades extra-profissionais para atingir e manter o meu equilíbrio emocional...mas, que bem faço eu à minha família quando dependo constantemente dela...quando à minha frustração profissional (o caminho que escolhi para a minha vida), se junta a preocupação dos que me são próximos e queridos? ...mas pior que isso? o que fazer quando as alternativas são poucas ou nulas? creio...e defendo...que o ser humano tem uma necessidade intrínseca de "quebra"...quebrando hábitos e vícios que sentem não os levar a algo que provoque neles um sentimento de realização...

dito isto...resta-me resumir que...não creio que seja pela independência económica que os jovens migram...migram, isso sim, com vista a alcançar uma estabilidade emocional,quebrar com a frustração, com o intuito de dar sentido às apostas que fizeram no passado (formação e crescimento pessoal)...que permita responder ao apoio e dedicação que a família sempre lhes transmitiu (porque, aquando do nosso desenvolvimento pessoal e profissional, não se esperavam estas "regras do jogo", e preparámos-nos noutro sentido, não querendo ver goradas as nossas apostas, nem deixando os nossos pais pensar que o esforço deles não valeu a pena...)

acho que me alonguei um pouco...desculpem...tentarei ser mais sintáctico doravante...

PA disse...

Rafa: apenas vou pegar na questão do investimento na formação. Julgo ser esse mais um sintoma da inversão de valores. Ou seja, investe-se na formação para ter um retorno financeiro no futuro. É essa a mensagem que se passa, é essa a ideia de competitividade. As pessoas já não se formam para crescer humanamente e em sabedoria; daí haver tanto doutorzinho tão mal-formados. E à força, têm de arranjar trabalho na sua área, ou népias. Pensar-se que apenas se poderá ser feliz a fazer aquilo para o qual se estudou (conceito utilitarista de educação) é uma das grandes falácias da actualidade.

Rafa disse...

...não creio que tenha a ver com o "ser doutor e engenheiro"...até porque muitos do que saem do pais não é isso que vão fazer...vão fazer o que aparecer...e espreitar uma oportunidade para fazer aquilo para o qual se formaram...contudo, e creio que não pode ser esquecido...passarmos X anos a trabalhar e a crescer num dado sentido, altera profundamente os objectivos que temos...daí sim, se me formei para algo, gostava de o exercer...
...não posso, contudo, deixar de concordar quando o PA diz que existe uma falta de crescimento humano...mas deixo uma questão...como posso eu acreditar e defender o crescimento humano, se não tento realizar-me e superar-me na amplitude do meu ser/existir? ...ou a ambição profissional exclui automaticamente os valores sociais e familiares que fazem um Homem?

...pessoalmente, creio que quem parte sem custo...tem falta de algo...mas ninguém diz que se parte sem custo...

(não queria contudo deixar de realçar, do meu anterior comentário, a parte da realização e frustração pessoais...porque acredito mesmo que são os principais motivos para "dar o salto"...)

Zef disse...

Queria expressar, que tanto aqui ou no estrangeiro, a sociedade rege-se em geral pelo dinheiro, por isso a busca dos jovens mesmo que seja em Portugal, está desvirtuada?

Concordo com o Rafa, e penso que o investimento que se fala neste caso é o esforço a dedicação a algo que sonhamos... não foram os jovens que pagaram estes cursos... foram os pais o país... não é a perda desse dinheiro, que lhes custa assim tanto...

PA: acho que o conhecer novas realidades, enfrentar desafios novos, e tomar decisões é importante para crescer humanamente, acho que mesmo iludidos, nós jovens estamos a obrigar-nos a crescer positivamente...

Zef disse...

PA: Queria expressar, que tanto aqui ou no estrangeiro, a sociedade rege-se em geral pelo dinheiro, desta forma a busca dos jovens mesmo que seja em Portugal, desse ponto de vista está desvirtuada.

Concordo com o Rafa, e penso que o investimento que se fala neste caso é o esforço e a dedicação a algo que sonhamos, e o pouco que construímos... não foram os jovens que pagaram estes cursos... foram os pais e o país... não é a perda desse dinheiro, que lhes custa assim tanto...

PA: acho que o conhecer novas realidades, enfrentar novos desafios, e tomar decisões é importante para crescer humanamente, acho que mesmo iludidos, nós jovens estamos a obrigar-nos a crescer positivamente...

nuno antunes disse...

Na minha perspectiva, não se emigra com a ligeireza que me parece transpirar nalguns comentários que li. O tema de ir trabalhar para o estrangeiro é motivo de grandes incertezas e catalisador de questões interiores em quem emigra. É assunto para tirar o sono. E o que fica, como escreve o João Monge, "tem muito mais texto".

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