Antes de desligar a máquina por hoje e aguardar que a minha cara metade me venha buscar para irmos para casa, tive uma vontade de fazer uma reflexão. O mote vi-o numa frase que me chamou a atenção numa dessas divagações por páginas do mundo virtual: ser Igreja, hoje.
Pelo que vamos vendo um pouco pela opinião publicada, parece que se anda muito preocupado por haver menos gente nas missas, por se casar menos "pela Igreja", por se baptizarem menos crianças, etc. A esse respeito tenho a dizer que, apesar de tudo, é gente a mais. Não que se estorvem uns aos outros (como eu já estorvei). Mas, ser Igreja e estar na igreja são coisas um bocado diferentes. A mim não me aflige que haja cada vez menos praticantes. O que me aflige, isso sim, é que muitos praticantes o sejam de ocasião, o façam por mera formalidade social. Não admira, pois, que as maiores dores de cabeça dos padres tenham origem nos "fiéis" que aparecem quando o rei faz anos, isto é, quando se baptizam, quando se casam e, inevitavelmente, quando morrem.
Uma coisa é certa: a Igreja de que faço parte precisa de ser mais arrebitada (lá está a palavra), à maneira do próprio Jesus que nem ele mesmo se conteve naquele episódio em que correu à chapada os vendilhões do templo.
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[05/03/2008]
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6 comentários:
meu caro amigo, isso só acontece porque "os senhores padres" não conseguem ser consequentes. têm de lá estar para todos, mas nem todos estão para ele (melhor, a maior parte só "os utiliza" quando bem lhe apetece)...
e na atitude aparentemente "evangélica" de a todos acolher (mesmo que por vezes mal) vai-se alimentando um esquema que se critica...
soluções... -não sei; e já tive medo de saber! -acho que em vez de pedestais começaríamos a habitar mais calvários (plural simplesmente majestático)
deixo uma história, escrita por mim há uns anos. não concorda nem discorda, pretende/ia ajudar a ACORDAR...
"Os palhaços estavam lá. Com o seu ar de gente de sucesso, preenchida de insucessos existenciais e não só… mas uma vez mais, não o sabem e não o conseguirão saber.
Começa a ser uma constante: a cerimónia é religiosa e, desta vez, os noivos, gente séria no momento que se propõem viver (o que já não é tão constante…) entre si e com os seus amigos e familiares…
Eis onde começa a estória: pastilhas na boca, telemóveis que tocam, fotógrafos amadores… análise aos desempenhos do padre… pode ser que este faça o nosso casamento «bonito»…
A pachorra começa a faltar. Não é por nada. Mas já era tempo que a gente deste tempo desse um jeito em si, ou na sua fé… com verdade. Mas coitados não sabem… e do que não sabem, não conseguem sentir o desejo de saber.
O Mistério é cada vez mais mistério para essas gerações que acreditaram poder desvendá-los todos!"
Ups,
possivelmente não deveria falar assim...
só mais uma história (começo cedo a publicar memórias):
"Nem lembra ao diabo… quase que aposto. E o assunto não será tão linear como o vou apresentar. Mas há que reflectir sobre um assunto, que por vezes aflora a nossa sociedade civil, órfã de cerimónias de cariz «religioso»… refiro-me às celebrações «religiosas» de figuras públicas que, em vida, sempre se mostraram, em nome da sua verticalidade, avessas à religiosidade…
Mas vamos ao meu caso. Tarde de um dia normal, onde se entra num café para calmamente beber o café da tarde. Conversa puxa conversa e entre as pessoas conhecidas tenho a honra de conhecer um desconhecido… meu paroquiano por território mas, como foi fazendo questão de dizer, o mais avesso possível à instituição de que faço parte (horror dos horrores). Comi e calei. “Ainda bem que há pessoas com ideias tão esclarecidas!”.
Voltemos a uma outra tarde, de um dia, também ele, normal. Toca a campainha lá de casa. Ao abrir a porta, espanto meu, aí estava com ar soturno, o meu paroquiano, pedindo que o funeral de seu pai fosse por mim feito. Comi e calei. Nada tinha a dizer só a servir… mas fiquei com ela atravessada: será que esta gente não tem vergonha, ou não tem mesmo capacidade se olhar com respeito? "
Apesar de desconhecer, à vontade, 99% das causas e razões, nem tendo a experiencia do Abílio nem do P arrebitado neste tipo de situações, vejo-me obrigado a por um lado concordar, por outro discordar, e por outro ainda (seja lá de que lado possa ser agora), sair, não em defesa, mas em não ataque do paroquiano...
Se por um lado é verdade que cada vez há mais ovelhas surdas que seguem as outras, só para fugir do lobo ou não pastar sozinhas, por outro lado, quer-me parecer que essas ditas ovelhas também acabam por evoluir em Igreja, não de forma tão intrinseca, mas ainda assim proveitosa, quanto mais não seja por cada "pedra" que essa pessoa pode vir a levar consigo...
Tenho ainda assim de reconhecer que, ir ver a caravana passar não dá metade da alegria de num dia participar no cortejo...e é isso que eu questiono, até que ponto as pessoas que estão na celebração, estão lá com a devida vontade de se deixar conquistar, ou pelo menos de se aperceber do que se passa ao seu redor...contra mim falo...reconheço, no decorrer das celebrações, alguns dos passos, a razão da sua existencia e o que acontece...contudo, a parte das conções sempre me suou como o mais importante...não consigo "trautear" as lengalengas qual catequista devoto...não estou de joelhos a dizes "bexebexe"...mas apesar da minha má vós, canto...apesar de achar a maioria das leituras secante (perdoem-me os escritores, os oradores e o bacano que deu origem a isto tudo), há dias em que até as consigo ouvir na integra e me questiono sobre elas...
quanto ao paroquiano...ninguém disse que o funeral, feito por um padre, como simbolo de uma Igreja, era o desejo do filho...
Gostei desta conversa, até porque conheço parte das "estórias". E gostei tanto, que ela me abriu o desejo de nos reunirmos à volta de uma mesa - não importa o que se possa pôr sobre ela - e falarmos, falarmos, de olhos nos olhos, abertos sem complexos, como janelas das nossas almas; para que se possa ver a beleza que está lá dentro e que muitos dos nossos discursos escondem.
Mas isto são fantasias de velho! Espero compreensão da parte dos jovens frequentadorse deste espaço.
AP (Reparem que é AP e não PA).
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